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O “E” do ESG – Quanto valem os serviços prestados pela natureza?

Neste artigo, o professor da Coppead/UFRJ Celso Funcia Lemme questiona por que ainda temos dificuldade de conectar claramente o E (ambiental) do universo ESG com o valuation tradicional


Por Celso Funcia Lemme, Para o Prática ESG via Valor


Quanto valem os serviços prestados pela natureza

Pergunte a um grupo de pessoas quanto pagariam por um telefone celular de última geração. A resposta virá em segundos, com precisão em relação ao preço de mercado. Em seguida, pergunte quanto estariam dispostas a pagar por 20 minutos de fotossíntese, processo biológico que estudamos no ensino fundamental.


Os minutos seguintes serão de silêncio e perplexidade, sem resposta razoavelmente fundamentada. Refletindo e conversando um pouco, chegaremos à conclusão de que a fotossíntese é mais importante do que o celular, pois garante a nossa sobrevivência, convertendo CO2 em O2, essencial para a nossa respiração.



Quanto valem os serviços prestados pela natureza


Por que, então, não avaliamos e tratamos corretamente os recursos e serviços naturais fundamentais para a espécie humana, enquanto valorizamos produtos e serviços tradicionais? Por que as conferências internacionais têm tanta dificuldade para chegar a acordos necessários para a humanidade?


Uma possível resposta é que ainda vivemos pelos fundamentos da Revolução Industrial do século XVIII. Capital industrial e financeiro são sempre reconhecidos e valorizados; capital natural e humano, nem tanto. Duas perguntas podem ajudar nesta discussão:


1) Podemos ter empresas realmente vencedoras em sociedades derrotadas?


2) É possível fazer bons negócios em um planeta fragilizado ou devastado?


O fortalecimento da atividade econômica se baseia na preservação e desenvolvimento das diversas formas de capital. O relatório “The Global Risks Report 2023”, do World Economic Forum, dedica grande parte às questões ambientais e sociais. O estudo “Nature-related Financial Risks: a Conceptual Framework to Guide Action by Central Banks and Supervisor


Quanto valem os serviços prestados pela natureza


Com tantas evidências, por que ainda temos dificuldade de conectar claramente o E do universo ESG com o valuation tradicional? Além do entendimento da associação entre as diferentes formas de capital, outra explicação pode estar na formação acadêmica dos analistas. Em qualquer escola de negócios, os alunos aprendem a lidar com métodos de fluxo de caixa descontado, múltiplos, valor de mercado, etc., aplicáveis na avaliação de ativos e passivos tradicionais. Pergunte quantos deles conhecem métodos de valoração ambiental, como hedonic pricing, travel cost ou contingent valuation.


Um número bem menor vai se manifestar, embora seja muito útil conhecer estudos como “Drivers of PES Effectiveness: Some Evidence from a Quantitative Meta-analysis” (Legrand et. al., Ecological Economics, 2023). Ele aborda um tema particularmente importante para a agenda ESG do Brasil e das empresas brasileiras, o pagamento por serviços ambientais ou ecossistêmicos (PES), boa oportunidade para liderança internacional brasileira.


Embora imprecisos por natureza, os métodos de Valoração Ambiental (VA) podem ser úteis como base para definição da estratégia ESG nacional e empresarial. Os conceitos e métodos de VA tentam traduzir preferências humanas em relação ao meio ambiente em linguagem econômica. Ao associar valores monetários aos recursos e serviços ambientais, a VA pode despertar nos cidadãos a percepção do custo envolvido no descuido com o meio ambiente.


Quanto valem os serviços prestados pela natureza

Os sistemas naturais são ativos multifuncionais, que fornecem à humanidade um grande número de funções de valor. Com algumas simplificações, poderíamos reuni-las em quatro grupos:


- Suprimento de recursos materiais, renováveis ou não;

- Assimilação de resíduos ou rejeitos;

- Serviços de recreação, estética e conforto espiritual;

- Complexos serviços de suporte à vida, como fotossíntese e regulação climática.


A robustez das abordagens de VA depende, como sempre, da qualidade dos dados disponíveis. Algumas são baseadas em dados de mercado, mais fáceis de entender e quantificar. Na inexistência de mercados específicos para certos produtos e serviços ambientais, valores de mercados substitutos ou complementares podem ser utilizados.


Sendo o caso de bens ou ou serviços ambientais totalmente não-precificados, alguma indicação de valor pode ser obtida através de técnicas de simulação de mercados, em geral rotuladas como de avaliação contingente. Especialistas podem ser mais precisos nessas definições. Como em outros campos da avaliação econômica, não é possível hierarquizar os métodos, pois a escolha depende das características do problema e da disponibilidade de dados.


Quanto valem os serviços prestados pela natureza

A variedade de métodos não deve criar a ilusão de que a VA como ferramenta para a discussão das questões ambientais tem consenso na comunidade científica. A evolução de qualquer ramo da ciência requer o confronto permanente de ideias e fatos. Importante entender que a valoração ambiental não pretende definir um preço para o meio ambiente, apenas medir preferências humanas em relação aos estados do ambiente, lembrando que valores monetários são uma forma bastante comum e perceptível das pessoas expressarem preferências. Não estamos trocando vidas e ecossistemas por dinheiro.


Analistas financeiros tradicionais, analistas especializados em ESG e profissionais que atuam em ONGs ou órgãos reguladores podem se beneficiar de um entendimento básico da valoração ambiental, para uso em relatórios usuais de valuation, sistemas de rating ou scores ESG, interação com profissionais de RI, definição de marcos regulatórios etc.


Identificar os problemas e fazer as perguntas certas é um passo importante para encontrar as respostas. A aproximação dos objetivos e métodos das empresas, governos e cidadãos pode ajudar a evitar que a conta que não é de ninguém acabe sendo paga por




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